É importante relembrar que existe muita disseminação de informação tanto nas redes sociais como por outras vias, embora nem sempre fidedigna e não baseada na evidência científica, pelo que é importante saber selecionar a informação relevante. Sendo este um tema que causa muita preocupação às pessoas, por vezes estamos dispostos a fazer qualquer coisa com vista a minimizar a doença em nós próprios ou naqueles que nos são próximos, existindo sempre quem se aproveite desta fragilidade. Neste artigo vamos discutir a origem destas doenças, quais os fatores de risco e o que se pode fazer para reduzir o impacto do cancro.
DIMENSÃO DO PROBLEMA
O cancro (também designado por doença oncológica ou neoplasia), é a segunda maior causa de morte no mundo inteiro, tendo sido responsável por cerca de 9.6 milhões de mortes em 2018. Os cancros mais comuns são:
- Pulmão (2.09 milhões de casos em 2018)
- Mama (2.09 milhões de casos em 2018)
- Colorectal ou cancro do intestino (1.8 milhões de casos em 2018)
- Próstata (1.28 milhões de casos em 2018)
- Pele (1.04 milhões de casos em 2018, de cancros de pele que não melanoma)
- Estômago (1.03 milhões de casos)
Em Portugal, os cancros mais comuns considerando ambos os sexos, são o da próstata, seguido pelo cancro de mama e cólon (se considerarmos o cólon e reto em conjunto estes serão o segundo mais frequente, à frente do cancro da mama). No homem, os mais comuns são o cancro da próstata, pulmão e cólon (mais uma vez se considerarmos em conjunto com o cancro do reto este será o 2º mais frequente no homem). Na mulher, os mais frequentes são, por esta ordem, mama, cólon e tiroide.
QUAL A ORIGEM DO CANCRO?
O nosso corpo é feito de milhões de pequenas células. Estas têm o seu próprio ciclo de vida. Crescem, multiplicam-se e morrem. O ADN de cada célula contém toda a informação que esta precisa para cumprir as suas funções e para se dividir. Neste processo podem acontecer erros, que normalmente são corrigidos pelo nosso corpo. As células que contêm estes erros são destruídas e não podem transmitir a informação errada que contêm. O cancro surge quando estas células normais se transformam, sem que haja uma reparação eficiente das mesmas, levando à divisão descontrolada de células anormais que crescem para além das suas fronteiras habituais e, que podem espalhar-se para outras partes do corpo (chamadas metástases). Quando isto acontece os órgãos deixam de ter a capacidade de funcionamento normal e consequentemente começamos a ter os sintomas associados a estas doenças.
Esta transformação não é súbita, sendo um processo constituído por vários passos e que progride desde uma lesão pré-maligna ao cancro propriamente dito, e resulta de uma interação entre fatores genéticos do indivíduo e agentes externos ou carcinogéneos.
A idade é por si só um fator de risco fundamental para o desenvolvimento do cancro. Estes aumentam com a idade pela exposição acumulada aos vários fatores de risco, mas também porque com o avanço da idade os mecanismos de reparação celular se vão tornando menos eficientes.
QUAIS OS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO?
Existem muitos e variados factores de risco para o aparecimento de doenças oncológicas. Dentro destes fatores de risco temos 2 tipos: os que não conseguimos alterar, como a idade e a genética, e outros que podemos alterar, tais como a poluição, a exposição ao fumo do tabaco, a exposição à radiação ultravioleta (que faz parte da radiação solar) e ionizante (em determinadas profissões ou determinados exames médicos), e as infeções por certos microrganismos de que são exemplo o Papiloma Vírus Humano (HPV) e os Vírus da Hepatite.
COMO REDUZIR O IMPACTO DO CANCRO?
Cerca de 30-50% dos cancros podem ser prevenidos pela evicção de alguns fatores de risco e pela implementação de estratégias de prevenção. O impacto das doenças oncológicas pode também ser reduzido pela deteção e tratamento precoces. Muitos cancros têm uma elevada probabilidade de serem curados se detetados precocemente.
Modificar/evitar determinados fatores de risco:
1. Hábitos tabágicos
2. Obesidade ou excesso de peso
3. Dieta pouco equilibrada, com pouco consumo de frutas e vegetais
4. Estilo de vida sedentário/reduzida atividade física
5. Consumo de álcool
6. Infeções transmitidas por via sexual, tais como o HPV
7. Infeções por vírus responsáveis pelas hepatites
8. Poluição urbana
9. Exposição a radiação ultravioleta
10. Exposição a radiação ionizante sem indicação médica
O tabaco é o principal fator de risco, e responsável por aproximadamente 22% das mortes relacionadas com o cancro.
A vacinação contra o HPV e o Vírus da Hepatite B pode prevenir 1 milhão de novos casos de cancro por ano.
O rastreio é também uma ferramenta de extrema importância na nossa luta contra o cancro. Este destina-se a identificar alterações sugestivas de determinado cancro ou lesão pré-maligna em pessoas que não têm sintomas da doença, de forma a fazer um diagnóstico e tratamento precoces.
RASTREIO/DIAGNÓSTICO PRECOCE
- Manter regularidade de consulta com o seu Médico Assistente, mesmo sendo saudável e sem sintomas de doença. Para muitas doenças, o exame clínico é ainda a melhor forma de rastreio.
- Efetuar os exames de rastreio preconizados para a sua idade, género e de acordo com os fatores de risco. Siga as orientações do seu Médico Assistente.
Lembre-se: um diagnóstico precoce salva vidas!
1. WHO- Cancer: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer
2. DGS-mamografia: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/nor...
3. Vacinação contra infecções por Vírus do Papiloma Humano (HPV): https://www.dgs.pt/?cr=12676