Hoje inicia-se o Ramadão, o nono mês do calendário muçulmano, no qual o Qur’an foi revelado pela primeira vez ao Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele e com a sua família) “como orientação para a humanidade…” (Q 2:185). 

Ó bem-amado com a face da lua, o mês do Ramadão chegou. 

(Rumi, poeta sufi, séc. XIII)

Na tradição muçulmana é, por isso, celebrado como um mês auspicioso, um período de purificação e de maior compromisso com atos de piedade, através de uma variedade de práticas como o jejum, o sacrifício e a disciplina, a abstinência do conforto material e a realização de boas ações, como a caridade e o serviço voluntário.  
A prática do jejum, comum a outras tradições abraâmicas, não se limita à abstinência física, pois deve ser acompanhado de um sentido de disciplina moral, ética e espiritual.

A dimensão esotérica do jejum encontra-se evidente num hadith relatado pelo místico sufi al-Hujwiri (séc. XI). De acordo com este autor, o Profeta Muhammad disse a um certo homem: Quando jejuas, que jejuem os teus ouvidos e os teus olhos e a tua língua e as tuas mãos e todos os membros. Assim, durante este mês os muçulmanos dedicam-se à oração individual e congregacional, à reflexão sobre sentido da sua existência, a uma maior consciência sobre a sua conduta, e à procura de uma maior proximidade com o divino   

O propósito é o de procurar o equilíbrio entre a vida material e a vida espiritual, de cultivar o caráter moral e de expressar os valores do Islão, particularmente a compaixão, a generosidade e a partilha com os menos afortunados. No discurso proferido na Conferência sobre Filantropia Indígena, que se realizou em Islamabad, Paquistão, a 17 de Outubro de 2000, Mawlana Hazar Imam explicou a natureza abrangente da caridade como um ato que: 

… pode ir além do mero apoio material. Pode assumir a forma de apoio humano ou profissional, como dar educação a quem de outro modo não a pode obter, ou a partilha de conhecimento para ajudar indivíduos marginalizados a desenvolverem um futuro diferente e melhor para si próprios.

O Ramadão é também um mês de união com os nossos irmãos e irmãs da ummah (comunidade global muçulmana), através dos nossos valores comuns. É igualmente uma época de reunião com as famílias para partilhar os desafios e os triunfos da vida, acalentando um belo sentido de fraternidade. Para exprimir esta união neste período, os muçulmanos cumprimentam-se com a saudação: Ramadan Mubarak. 

Iniciemos o mês de Ramadão, exprimindo a nossa gratidão pelas inúmeras bênçãos divinas, fortalecendo a nossa relação com Deus, com o nosso amado Imam e com todos os que nos rodeiam.