O Prémio Aga Khan para a Arquitetura (AKAA) foi estabelecido por Mawlana Hazar Imam no ano de 1977, com o objetivo de identificar e encorajar a construção de conceitos que abordam com sucesso as necessidades e aspirações das sociedades, nas quais os muçulmanos têm uma presença significativa. Este Prémio é atribuído a cada três anos e pretende distinguir projetos que estabelecem novos padrões de excelência na arquitetura, práticas de planeamento, preservação histórica e arquitetura paisagística.
O Prémio Aga Khan para a Arquitetura é diferente dos demais prémios atribuídos na área da arquitetura: não premeia apenas arquitetos, distinguindo também municípios, construtores, mestres artesãos e engenheiros, que tenham desempenhado papéis importantes na realização de determinado projeto. Foram premiados projetos em todo o Mundo, desde a França até à China, e durante o processo de seleção foram considerados mais de 9 mil projetos.
A cerimónia de divulgação dos projetos vencedores e de conclusão de cada ciclo trienal é realizada em regiões especificamente selecionadas pela sua importância e relevância arquitetónica e cultural para o mundo muçulmano. Os vencedores irão partilhar entre si um prémio total de 1 milhão de dólares. Este ano a cerimónia foi realizada em Kazan, um local designado como Património Mundial.
Arquitetura
Nas sociedades atuais, os novos projetos de arquitetura são geralmente analisados em termos de custo e retorno de investimento. Porém, as implicações relacionadas com esta visão estreita da arquitetura podem ter consequências na nossa qualidade de vida. A arquitetura é também um meio de comunicação que reflete a identidade de determinada sociedade. Deste modo, representa a história e a memória coletiva de um grupo, retratando os seus valores inseridos num contexto particular.
Na tradição islâmica, a arquitetura serviu como um meio de exploração da relação entre a fé, a cultura e a identidade, ilustrando a diversidade de expressão nas culturas muçulmanas e como cada uma delas aborda as necessidades das sociedades modernas.
O professor Azim Nanji sugeriu que a qualidade de vida das sociedades e dos indivíduos também abrange as suas vidas culturais e sociais, pilares angulares da sua identidade. “A arquitetura é uma manifestação significativa desse sentimento de pertença e de lugar” afirma, refletindo como esta afeta o quotidiano das pessoas nos espaços onde estas interagem.
A arquitetura tem uma dimensão adicional. Como Mawlana Hazar Imam afirmou na Indonésia, em 1995: “A espiritualidade e a arquitetura, juntas, tornam-se uma força que pode construir pontes entre pessoas e comunidades e capacitá-las a construir um futuro mais harmonioso e mais humano.”
Premiados
Este ano, foram seis os projetos homenageados e galardoados com o Prémio Aga Khan para a Arquitetura - um dos mais antigos e mais prestigiados prémios no mundo da arquitetura. Os vencedores incluem projetos desenvolvidos no Bahrain, no Bangladesh, na Palestina, na Federação Russa, no Senegal e nos Emirados Árabes Unidos. Todos estes projetos apresentam respostas criativas e inovadoras às questões contemporâneas, como as mudanças climáticas, relações entre pessoas e os desafios inerentes à adaptação a novos contextos.
No seu discurso, Mawlana Hazar Imam, que preside o Comité Diretivo do Prémio referiu: “A arquitetura - mais do que outra forma de arte - gera um profundo impacto na qualidade de vida do Homem. Como se costuma dizer, nós moldamos o nosso ambiente construído e depois os edifícios moldam-nos.”
Mawlana Hazar Imam também referiu quatro áreas nas quais a arquitetura pode criar um impacto positivo na qualidade de vida no ambiente atual em que vivemos: um diálogo de parcerias; um diálogo entre o passado e o futuro; um diálogo entre a natureza e o Homem; e um diálogo entre culturas.
Um dos vencedores, o Programa de Desenvolvimento de Espaços Públicos, na República do Tartaristão, é um exemplo de um projeto que seguindo uma perspetiva inclusiva, reforçou o sentido de comunidade, de identidade e qualidade de vida, ao melhorar 328 espaços públicos por todo o Tartaristão. É um modelo para todo o país ao promover mudanças económicas, sociais, culturais, físicas e ecológicas.
A Revitalização de Muharraq, proveniente do Bahrain, destaca a história do comércio de pérolas deste local Património Mundial, que começou inicialmente como uma série de projetos de restauração e reutilização de edifícios. O projeto evoluiu e tornou-se num programa abrangente, com o objetivo de reequilibrar a composição demográfica da cidade através da criação de espaços públicos e espaços comunitários e culturais, melhorando o ambiente geral e proporcionando um espaço para profissionais de diferentes contextos interagirem e colaborarem.
Com as mais recentes preocupações relativas às alterações climáticas, o Projeto de Educação Arcadia, em Kanarchor Sul, ilustra uma solução inovadora para combater o aumento do nível médio da água. Ao invés de perturbar o ecossistema para possibilitar a construção, o arquiteto desenvolveu uma solução de estrutura anfíbia que poderia ficar assente no chão ou poderia flutuar sobre a água, dependendo das condições meteorológicas. Assume assim uma estrutura inovadora numa zona ribeirinha que inclui um infantário, um hostel, um berçário e um centro de formação profissional.
O diálogo entre o passado e o futuro é explicado por Mawlana Hazar Imam que afirma “O diálogo que procuramos é um que combina a inspiração do passado com as necessidades futuras”. Assim, o Museu da Palestina, em Birzeit enfatiza a ligação com a terra e com o património (passado) do país. Com o apoio de uma universidade vizinha, o Museu é um projeto promissor da maior ONG palestiniana, que abriga uma variedade de artefactos que facilitam o conhecimento do passado.
Também o diálogo entre a natureza e o Homem é celebrado pela Unidade de Ensino e Investigação da Universidade Alioune Diop, em Bambey no Senegal, onde a escassez de recursos levou ao uso de estratégias bioclimáticas: um grande telhado duplo com uma estrutura em treliça que evita a radiação solar direta, mas permite que o ar circule através da estrutura. Ao utilizar técnicas de construção conhecidas pelos locais e seguindo princípios de sustentabilidade, o projeto conseguiu controlar os custos e as exigências de manutenção, estabelecendo-se como um marco arquitetónico.
Por fim, o Centro de Zonas Húmidas de Wasit, em Sharjah, é um projeto que transformou um terreno baldio numa zona húmida e funcionou como um catalisador para a biodiversidade e a educação ambiental. Conseguiu restaurar o seu ecossistema indígena, e provou ser um local popular para os visitantes apreciarem e aprenderem sobre o seu ambiente natural.
Assim, o Prémio Aga Khan para a Arquitetura enfatiza o pluralismo e o diálogo entre as diversas culturas, contextos, línguas e crenças. Como Mawlana Hazar Imam afirmou “O pluralismo significa mais do que meramente tolerar a diversidade de influências e ideias. Também significa acolher as oportunidades de aprendizagem que a diversidade oferece, encontrando formas de honrar o que é único nas nossas tradições individuais, bem como os valores que nos unem a toda a humanidade.”
“Um verdadeiro diálogo requer não apenas a articulação de uma perspetiva, mas também que escutemos - atentamente - outras perspetivas. Mais do que isso, pede-nos não só para nos ouvirmos uns aos outros, mas também para aprendermos uns com os outros” disse Mawlana Hazar Imam, expressando a sua crença no potencial do diálogo para enfrentar os desafios dos dias de hoje.