No período pré-pandemia, as famílias viviam numa verdadeira azáfama, em que o tempo não parecia chegar. As crianças com horários completos, entre escola, Dar-at-Ta’lim, explicações, atividades extracurriculares e atividades sociais. Os pais num rodopio constante tentando chegar a todo o lado, entre vida profissional, trabalho em casa, vida pessoal e social, parecendo que as 24 horas do dia não eram suficientes. Com a pandemia, tudo mudou.

A pandemia e a COVID-19 puseram um travão ao estilo de vida acelerado, dando a oportunidade de parar e refletir. No primeiro ano houve tempo para parar, as famílias voltaram a estar em casa em família, partilhando e dividindo os mesmos espaços 24 horas por dia, o que propôs a muitas famílias começarem novas rotinas e hábitos familiares.

No segundo ano, com as escolas em formato online intensivo e os pais em teletrabalho, também houve muitas aprendizagens e adquiriram-se novas capacidades e habilidades para todos como:

  • A resiliência, ou seja, a capacidade de adaptação e superação.
  • A criatividade - com poucos materiais as crianças desenvolveram fascinantes projetos, as famílias encontraram sempre forma de comunicar entre si e até celebrar os aniversários por videochamada.
  • E até o pensamento crítico.

O hábito de estar em casa, no conforto do lar, e ligados muitas horas aos ecrãs, também trouxe aspetos menos bons. Os nossos jovens desenvolveram e revelaram sentimentos e emoções intensos, que se prolongaram no tempo e os dominaram, tais como a ansiedade, o medo, a tristeza, a depressão entre outras. E, agora, todas as crianças estão a retomar calmamente o normal, aprendendo a controlar os medos e a ultrapassá-los.

Aqui, verifica-se a importância de identificar esses sinais, escutar, validar os sentimentos e emoções. E encontrar estratégias para encontrar novamente segurança e bem-estar.

Voltar à normalidade tem sido um processo de ajustamento para muitas famílias, especialmente para os seus membros mais jovens.

Deste modo, uma das estratégias para diminuir a ansiedade é voltar aos hábitos e rotinas pré-pandemia, de uma maneira sustentável. Por exemplo, as famílias que regularmente frequentavam Jamatkhana podem retornar. As crianças que tinham uma participação ativa nas aulas de educação religiosa podem voltar presencialmente, sempre de uma forma ponderada, segura e equilibrada. As atividades extracurriculares, incluindo a aprendizagem de uma nova língua, de um novo instrumento musical e a prática de desporto presencialmente, são também atividades essenciais para desenvolver outras competências que à distância se tornaram mais desafiantes de desenvolver, tais como o espírito de equipa e a capacidade de comunicar.

Em suma, é também relevante que famílias se recordem dos aspetos positivos que viram refletidos na proximidade familiar durante o período da pandemia, mas que, ao mesmo tempo, retomem a sua vida pré-pandemia de forma a preparem-se para o futuro.

Por Nurin Hassanali