A escola A Voz do Operário segue o Movimento da Escola Moderna, que se baseia num conjunto de práticas pedagógicas inovadoras alicerçadas em princípios de equidade, democracia e éticos de participação e cooperação. Nestes processos, a organização do trabalho a desenvolver, do espaço e do tempo é feita de modo coletivo. Trata-se de uma pedagogia de cooperação educativa, em que crianças e adultos negoceiam atividades e projetos a desenvolver, tendo em conta os saberes, interesses e motivações das crianças, bem como o contexto sociocultural das comunidades. As nossas atividades diárias são planificadas em conjunto e temos uma agenda semanal. Num processo de aprendizagem cooperada existem três condições fundamentais: a constituição de grupos heterogéneos; a existência de um clima em que é privilegiada a expressão livre; e o incentivo de atividades como brincar, explorar e descobrir. O paradigma é transversal aos vários níveis da educação abrangidos pela nossa instituição de ensino – creche, pré-escolar, 1.º e 2.º ciclos do ensino básico.
A educação é um continuum, percorrendo várias fases da vida. As transições entre ciclos de ensino são momentos marcantes e por vezes desafiantes. A existência de um trabalho conjunto e articulado entre os diferentes níveis tem um papel decisivo. N’A Voz do Operário verifica-se uma cooperação entre docentes, acordando procedimentos de transição e debatendo estratégias, aprendizagens e práticas.
O envolvimento das crianças no processo de transição do pré-escolar para o 1.º ciclo do ensino básico é de suma importância, já que elas são as protagonistas. Devem ter momentos para dialogar sobre o assunto, expressar receios e fazer perguntas. É essencial preparar o processo de transição e transmitir à criança uma visão positiva dessa passagem − sendo uma oportunidade de crescer, de realizar novas aprendizagens e de conhecer novas pessoas e situações −, para que esta sinta confiança nas suas capacidades para dar resposta aos desafios que surgirem. É também importante familiarizar as crianças com as novas instalações. Na nossa escola, organizamos sempre visitas às salas do 1.º ciclo. É desejável que essas visitas sejam planeadas com as crianças, perguntando-lhes previamente o que querem ver e saber. É também vantajoso contemplar momentos de contacto entre as crianças dos dois níveis de educação. Na nossa instituição, fazemo-lo mediante grupos heterogéneos, festas conjuntas, recreio partilhado, apresentações de projetos, troca de trabalhos e visitas em conjunto. O acolhimento das novas crianças deve ser programado: receção por parte dos professores; apresentação da escola; explicação acerca da organização das turmas, horário e funcionamento das aulas; e apoio por parte das crianças mais velhas. Todo este apoio é crucial, porque o modo como a criança vive as primeiras transições pode influenciar a sua atitude perante transições futuras.
O trabalho que fazemos é extensível às famílias, serviços e parceiros, numa coconstrução abrangente e integradora. As famílias são incentivadas a participar ativamente na vida escolar dos filhos, através de visitas às salas, participação em projetos, reuniões, espaços de reflexão, passeios, festas, dias e atividades especiais na escola, entre outros. No contexto da transição para o 1.º ciclo, o facto de se perspectivar as famílias enquanto elementos integrantes dos diferentes processos de aprendizagem, dá-lhes oportunidade de esclarecerem as suas dúvidas e apoiarem-se mutuamente. A colaboração com a comunidade, através de parcerias, é também de grande valia.
A entrada no 1.º ciclo do ensino básico constitui um marco significativo na vida de todas as crianças. É uma passagem para o “mundo dos mais crescidos”, onde vão continuar a aprender “coisas novas”. É importante que educadores e professores prestem atenção aos aspetos cognitivos, mas também aos emocionais. O desenvolvimento de competências sociais e emocionais constitui um dos elementos mais importantes para o bem-estar e a adaptação das crianças.
Em suma, o que pretendemos N’A Voz do Operário não é ter crianças obedientes, e com boas notas, mas sim, crianças empáticas, com voz ativa, emocionalmente estáveis, autoconfiantes, proativas, bem adaptadas, que trabalhem em grupo, resilientes, criativas, com espírito crítico e possuidoras de valores fundamentais, tornando-se adolescentes e adultos felizes, integrados na sua família e comunidade.
Ana Sousa
A Ana é educadora de infância, formada pela Escola Superior de Educação Jean Piaget desde 2009. Membro das direções pedagógicas, com funções de gestão e de coordenação pedagógica, de dinamização e regulação de processos de formação cooperada na Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário. O seu trabalho assenta nos princípios e valores da pedagogia do Movimento da Escola Moderna onde é membro ativo.