As atividades semanais irão retomar na segunda feira, dia 10 de janeiro 2022.

Desde a aurora dos tempos, e uma vez tocado pelo assombro dos fenómenos naturais, o Homem foi percebendo o transcurso dos ciclos da Terra e o que estes representavam para si pelo íntimo impacto que lhe despertavam. O contacto com a misteriosidade (Jaime Milheiro) da vida proporcionava a descoberta e o espanto da experiência de estar vivo, seja pela experiência da mudança das estações do Ano, com as suas diferentes e renovadas matizes, seja pela observação da renovação em curso que o passar dos dias, das semanas, dos meses, e por fim dos anos lhe provocavam em intensos sentires e pensares.

A vivência deste íntimo tempo, que não é um tempo qualquer, pois é um tempo “kairós”, representado pelos gregos como aquele tempo que se fez humano pela necessidade de vivê-lo oportunamente. Este é o tempo sentido e que amplia o sentido, é o tempo que se inscreve na memória do corpo e da mente, e por essa via, como memória afetiva, é um tempo que se constituiu em historicidade. É uma história viva, um tempo atravessado pelo passado, presente e futuro. 

É um tempo que ganhou essa forma (historicidade), quando o Homem procurou “agarrar o tempo” e ao “capturá-lo” nele inscrever a sua narrativa vivida, prenha de afetos, de emoções, sentimentos e memórias vivas que desse modo passam a ser a história contada por todos e cada um. Passam a ser uma história que se quer partilhada.

Uma história coletiva e individual que desde o início dos tempos da humanidade era transmitida pela fala, como legado oral, como património íntimo da humanidade, como reflexo da convivência humana que passava de geração em geração. 

Viver em estado nascente possui como condição a abertura ao que em nós existe de espontaneidade e que em livre fluxo se traduz muitas das vezes em realização criativa. Viver em estado nascente possibilita o surgimento de novas e renovadas respostas às perguntas da vida, assim como a ampliação do reportório comportamental humano que desse modo lhe permite dar seguimento ao inacabado, encontrar um desenlace criativo e renovado para as situações inacabadas. 

Em suma, que este "términus" que se avizinha seja um impulso para o novo que se anuncia em nós e que quer desabrochar.

Por fim, desejo um feliz dia novo em cada dia do nosso quotidiano, para que este seja feito de um tempo existencial insaturado, renovado e fluído. Que assim seja.


Vítor Fragoso :psicólogo clínico e psicoterapeuta, autor de vários livros e publicações no âmbito do Envelhecimento e Educação Emocional.

Fonte: https://www.draft-worldmagazine.com/post/novo-dia-urge-renovar-aquilo-que-o-tempo-gastou