“O jubiloso Nawruz chegou; Oh Senhor! Que seja abençoado! A pureza chegou em abundância; Oh Senhor! Que seja abençoado!
O azedume do Inverno chegou ao fim! O coração está agora atento à Primavera! Diz 100 vezes em cada momento: Oh Senhor! Que seja abençoado!
O véu foi levantado do caminho e o coração está agora cheio de certeza; o rouxinol da alma está agora a cantar; Oh Senhor! Que seja abençoado!”
Tradução da qasida persa “Nawruz-i saʿid amad, ya rab ki mubarak bad”.
Nawruz, uma celebração ancestral enraizada na tradição Zoroástrica, um festival que nasceu numa altura em que as comunidades estavam em maior sintonia com os ritmos e os ciclos da natureza, celebra a chegada da primavera. Hussein ibn Yaqub Sufi, um poeta do período pós- Alamut, na sua qasida, empregou a natureza e a sua beleza como uma metáfora para a alegria do coração e o renascimento da alma. Como um símbolo de mudança e novo início, Nawruz representa uma oportunidade de reflexão nas nossas vidas.
Nawruz, que significa “um novo dia” em persa, é um festival tradicional persa que é celebrado há mais 3000 anos. Apesar de ter a sua raiz nas tradições culturais e religiosas Zoroástricas, é agora parte de muitas tradições muçulmanas, incluindo as Ismailis, e muitas outras comunidades, sendo um símbolo de renovação, rejuvenescimento e novos inícios, transcendendo fronteiras religiosas e culturais. Hoje, o Nawruz é celebrado por mais de 300 milhões de pessoas em todo o globo e em alguns países, como o Afeganistão, o Irão, Tajiquistão e Georgia, é feriado.
A celebração de Nawruz está estreitamente ligada à história da contagem do tempo e à criação do calendário sazonal. Os Zoroastrianos dividiam o ano em seis festas sazonais e fixaram a celebração do seu Ano Novo, ou Nawruz, no equinócio da primavera, que é quando o dia e a noite têm a mesma duração.
A expansão do império muçulmano para além da Península Árabe proporcionou encontros culturais com outras sociedades, o que fez com que muitas das suas tradições e costumes passassem a ser parte dos costumes muçulmanos, incluindo a celebração do Nawruz. Este foi celebrado ao longo de muitas dinastias muçulmanas, incluindo os Umayyads em Damasco, os Abbassidas em Bagdad, os Fatimidas no Egipto, os Buyids e os Safavids na Pérsia e os Mongóis no Subcontinente Indiano.
Tal como reconhecido pelas Nações Unidas, o “Nawruz desempenha um papel significativo no fortalecimento de laços entre povos, baseado no respeito mútuo e nos ideais da paz e boa vizinhança. As suas tradições e rituais refletem costumes culturais ancestrais das civilizações do Este e do Oeste, que influenciaram essas mesmas civilizações através do intercâmbio de valores humanos”. (https://www.un.org/en/observances/international-nowruz-day)
Um dos grandes mestres Sufi, cuja teoria do amor divino foi muito influente, foi Ibn al-Arabi (século 12/13). Cresceu em al-Anadalus (Espanha) e a sua teoria de amor estava intimamente ligada com a sua filosofia geral acerca de Deus e da criação. Para Ibn al-Arabi, a criação não existe separadamente de Deus, o seu Criador, mas emana d´Ele.
Um exemplo que nos pode ajudar a perceber esta ideia: o sol e os seus raios não são duas coisas separadas, mas uma só. Os raios não podem existir independentemente do sol, mas emanam dele. Do mesmo modo, do ponto de vista de Ibn al-Arabi, só existe um Ser, uma realidade. Para Ibn al-Arabi, o propósito da criação foi claramente referida no verso Quranico, no qual Deus proclama:
“E não criei os jinns e os humanos senão para Me adorarem” (51:56)
A chegada da primavera anuncia um tempo de mudança, transformação e renovação da vida, que se pode observar na própria natureza.
No Sagrado Alcorão, a natureza é referida como um sinal de Allah. No Surah al-Baqara, versículo 164, é dito:
“Por certo, na criação dos céus e da terra, e na alternância da noite e do dia, e no barco que corre, no mar, com que beneficia a humanidade; e na água que Allah faz descer do céu, com a qual vivifica a terra, depois de morta, e nela espalha todo tipo de ser animal, e na mudança dos ventos e das nuvens, submetidos entre o céu e a terra, em verdade, nisso tudo há sinais para um povo que razoa”.
Neste dia, nos Jamatkhanas Ismailis à volta do mundo, são distribuídos grãos e frutos secos como um símbolo de barakah. Isto é conhecido como rozi, em Urdu, e rizk, em Árabe, representando bênçãos, sustento, vitalidade e abundância.
Cada novo dia, cada mudança nos ventos, cada gota de chuva é uma lembrança da constante mudança no universo, a criação de Allah!
Nawruz Mubarak!