Momento de Reflexão - o Princípio da Generosidade

English and Spanish versions available after the Portuguese one.

[PT]

BISMIL-LAHIR-RAHMANIR-RAHIM.

Ya Ali Madad.

Espero que todos se encontrem bem, em boa saúde.

E hoje faço um convite para juntos refletirmos sobre um princípio importante dentro da ética do Islão – o princípio da generosidade.

E porquê refletirmos hoje sobre este princípio poderíamos estar falar de outro? Mas parece-me adequado por duas razões. 

A primeira, porque decorre o mês de Ramadão, e o mês de Ramadão é um mês de revelação em que o sagrado profeta Muhammad (s.a.s) recebeu a primeira revelação. Segundo a tradição Shia Ismaili essa revelação ocorreu na noite, na vigésima terceira noite do mês de Ramadão, noite em que celebramos o Laylat Al-Qadr.  E é nesta revelação que encontramos referências à importância da generosidade como um meio importante para construção de uma sociedade mais justa, mais igual, mais fraterna, mais solidária.

E a segunda razão, de facto vivemos tempos sem precedentes e temos visto exemplos admiráveis de generosidade absolutamente desinteressada, e que não fora essa generosidade e nem vale a pena enumerar porque foram felizmente inúmeras as manifestações, não fosse essa generosidade teríamos tido mais sofrimento e infelizmente teríamos tido mais mortes. E não só. E de facto foi essa generosidade que permitiu aliviar o sofrimento, reduzir o número de vítimas, dar conforto a inúmeras pessoas e, portanto, parece-me apropriado que façamos uma reflexão sobre este princípio.

Mas enquanto crentes muçulmanos Ismailis, a pergunta que gostaria de colocar para reflexão é a seguinte: para um crente, o princípio da generosidade, além de ser de facto um princípio universal e transversal para toda a humanidade, mas enquanto crentes ela corresponde a um nível diferente de maior consciência e de maior responsabilidade? Como é que vamos procurar responder a esta pergunta? Fica para cada um de nós refletir sobre ela. Aqui vai um pequeno contributo.

E a resposta a esta pergunta nós vamos procurá-la no Quran, na revelação, no sura an-Nisa que é o quarto sura logo na abertura, no primeiro versículo, versículo este que encontramos em escrito no logo do Golden Jubillee, Allah diz:

“khalaqakum min nafsin waahidatin”

Que se traduz: “Fizemo-vos ou criámo-vos de uma única alma.”

Nafsi –alma,  wahiddatin -  tem a palavra subjacente ahad que significa- um. Única alma.

Imediatamente ela remete-nos para três ideias muitos importantes, enquanto crentes nós acreditamos que cada um tem em si a centelha divina. E temo-lo nós como tem o nosso semelhante. E todos nós estamos ligados ao divino. E isto é muito poderoso. Se quisermos ilustrar esta ideia para facilidade de explicação imaginemos traçar um eixo horizontal. Em cada uma das extremidades deste eixo temos o ser humano e temos o seu semelhante e no meio temos toda a criação. E depois desenhamos um eixo vertical, e neste eixo vertical no topo do eixo, da reta no cimo do eixo colocamos Allah.

E o que isto nos diz? Diz-nos que de facto enquanto crentes procuramos esta proximidade com o divino que mais não é do que a proximidade com a nossa própria essência. Mas ela, esse eixo vertical de um percurso de busca individual para a iluminação espiritual, ela assenta no eixo horizontal. E podemos  refletir e tecer as seguintes considerações:  se o eixo vertical podemos olhar ou considerá-lo como sendo a fé, o din, então o eixo horizontal é ação, é duni´ya. Se o eixo vertical é a busca individual de cada um para sua iluminação e para a sua realização espiritual a busca pela proximidade com o divino, então o eixo horizontal é o eixo coletivo, onde a fé tem que traduzir-se em ação. Se não houver ação o eixo vertical não tem sustento, não tem uma base sólida. E portanto para qualquer crente que busca a sua realização espiritual, ela forçosamente tem que assentar no seu eixo horizontal, na sua ação neste mundo, no duni´ya, na forma como conduzimos a nossa vida.

Este ayaat terá muitos outros significados mas ocorrem-me estes, e penso que merecem da nossa parte a reflexão. O que temos visto a nossa volta de facto são pessoas que generosamente fazem, e fizeram o que fizeram, e não pensaram provavelmente nestas questões porque é natural aquilo que fizeram, ele é inato no ser humano, pode estar esquecido, pode não estar ativo, mas ele é inato e nós tivemos provas disso.

Portanto para um crente e nessa perspetiva de olharmos para o princípio de generosidade ela é intrínseca à fé. Não existe busca individual para a realização espiritual sem o devido ou devida tradução desse princípio, dessa crença, na forma como conduzimos a nossa vida, na forma como no duni´ya, no zahir, na parte coletiva procuramos traduzir essa mesma crença a forma como olharmos para outro, e portanto como se na busca e na pergunta que fizéssemos ao divino:  “Eu procuro-te e onde é que tu estás?” E provavelmente uma das respostas seria “Mas eu estou à tua frente. Tu não me viste, no teu semelhante?” E disso temos inúmeros testemunhos em todas as escrituras na vidas de todos os Profetas. E

Mawlana Hazar Imam tem repetidamente chamado a nossa atenção para com aqueles que estão numa situação mais vulnerável e Mawlana Hazar Imam usou o termo na sua mensagem que requerirá estes momentos, estes tempos “holding hands” de agarrar a mão do outro.

“O mundo enfrenta tempos desafiantes, e nestes momentos é importante que o Jamat permaneça unido e focado em ajudar os que necessitam de apoio e amparo.”

Quando o princípio da generosidade é visto sob esta perspetiva ela parece ganhar uma nova dinâmica. Porque o crente não olha para estes dois eixos como sendo estanques e separáveis, a sua busca pela realização espiritual, traduzida em orações e pensamento e submissão tem que ter um reflexo na forma como conduz a sua vida.

E ele vê isso como apenas um processo absolutamente natural e que se reforçam mutuamente. Quanto mais estou consciente da minha conduta e procuro que ela esteja em conformidade com o facto de que somos todos uma mesma humanidade, no momento em que dedico tempo e pensamento e submissão à minha fé encontro outro tipo de respostas. É como se o nível de consciência subisse, se os véus fossem sendo destapados, e ela vai reforçar consequentemente a minha própria conduta porque os meus olhos vão começar a ver de forma diferente.  E vamos entrar naquilo que podemos considerar uma espiral virtuosa.

E portanto esta segunda ideia de que estes eixos são inseparáveis. O crente quando olha para aquilo que tem, sejam eles bens materiais, sejam eles conhecimento, sejam eles disponibilidade de tempo entre outras, ele olha para estes aspetos como sendo bençãos, concedidos por Allah. E que devem ser utilizados para si, para a sua família, mas, dentro daquilo que lhe é possível, partilhado e generosamente partilhado.

Ele olha para sua existência não apenas como uma existência efémera em que começa quando nasce e acaba quando morre, mas uma existência intemporal. E tudo que faz é também a pensar que de facto o que em última instância conta, quer nesta vida quer para outra, são os seus actos, os seus pensamentos, e a obra que deixar. Isso é o que para o crente de facto conta aos olhos do seu Criador. E quando pensamos em generosidade ela pode assumir as mais diversas formas e somos testemunhos do que tem ocorrido à nossa volta.

E não é necessário acrescentar muito mais porque todos sabemos que ela pode traduzir-se em disponibilidade de apoio financeiro, em partilha de conhecimento, em tempo, apenas para ajudar o vizinho, mas ela não se esgota apenas a estes momentos que estamos a viver. Em súmula provavelmente o que tem que existir dentro de cada um de nós, é uma disponibilidade para, em que não esgotamos tudo aquilo que a nossa vida, quer em termos de tempo quer em termos daquilo com qual fomos abençoados, apenas para aquilo que começa e acaba em nós e naqueles que nos são mais próximos, mas que possamos ser instrumentos de transformação.

E se alguma coisa este Covid-19 nos ensina e reforça aquela mensagem, é que de facto a generosidade até é um ato de inteligência. Diz Bill Gates num dos artigos que escreveu recentemente que esperaria que nesta altura todos os países estivessem a falar uns com os outros porque facilmente se chega à conclusão que não chega eu estar bem e o meu vizinho não estar, porque em momentos como este, ninguém pede licença para entrar. As coisas entram, os problemas entram, as doenças entram pela vida adentro, na vida de todos, de toda a sociedade sem pedir licença. E se o outro estiver bem e feliz é a melhor condição que eu eu tenho para prosperar. E portanto a generosidade até em si é um acto de inteligência.

Mas o Quran refere no outro ayyat que é o sura Al-Baqaara, o sura dois do Quran, no ayat 261 onde refere este efeito multiplicador da generosidade e utiliza o exemplo do grão de trigo e diz que a generosidade tem este efeito multiplicador que um grão do trigo dá origem a 7 espigas sendo que em cada espiga ela dá origem a cem outros grãos. De um, portanto, para 700. Não que quando temos algum acto de generosidade pensamos neste efeito multiplicador para o nosso benefício mas é que ele de facto tem o efeito multiplicador que retorna sempre. E quanto mais retornar para os outros mais retornará para mim.

Despeço-me de todos desejando que continuem em boa saúde, protegidos e o resto abençoado de mês Ramadan.

Ya Ali Madad.

 

[EN]

Bismil-lahir-rahmanir-rahim

Ya Ali Madad

I hope you're all well and in good health.

And today I invite you to reflect together on an important principle within the ethics of Islam - the principle of generosity. And why reflect today on this principle if we could be talking about another? But it seems appropriate for two reasons.

First, because the month of Ramadan is taking place, and the month of Ramadan is the month of revelation in which the holy Prophet Muhammad (s.a.s.) received the first revelation.  According to Shia Ismaili tradition, this revelation took place on the twenty-third night of the month of Ramadan, the night we celebrate Laylat Al-Qadr. And it is in this revelation that we find references to the importance of generosity as an important means of building a more just, more equal, more fraternal, more solidary society.

And the second reason is that we are living unprecedented times and we have seen admirable examples of completely selfless generosity, which were not for this generosity and which is not worth listing because there have fortunately been countless demonstrations, were if not for this generosity we would have had more suffering and unfortunately we would have had more deaths. And not only that. In fact, it is this generosity that has made it possible to relief the suffering, to reduce the number of victims, to give comfort to countless people, and it therefore seems appropriate that we should reflect on this principle.

But as Ismailis Muslim believers, the question I would like to ask for reflection is the following: for a believer, the principle of generosity, apart from the fact that it is a universal and transversal principle for the whole of humanity, but as believers it corresponds to a different level of greater consciousness and greater responsibility ? How are we going to try to answer to this question? It remains for each of us to reflect on it. Here is a small contribution.

And the answer to this question we will look for it in the Quran, in the revelation, in the sura an-Nisa which is the fourth sura right at the opening, in the first verse, this verse we find written in the logo of the Golden Jubillee, Allah says:

“khalaqakum min nafsin waahidatin”.

Which translates as, "We made you or created you from a single soul."

Nafsi -soul, wahiddatin- has the underlying word ahad which means one. Single soul.

Immediately it refers us to three very important ideas, as believers we believe that each one has the Divine spark in him. And we have it as does our fellow man. And we are all connected to the Divine. And this is very powerful. If we want to illustrate this idea for ease of explanation let us imagine drawing a horizontal axis. At each end of this axis we have the human being and we have his fellow man and in the middle we have the whole of the creation. And then we draw a vertical axis, and on this vertical axis at the top of the axis, from the straight on top of the axis we place Allah.

And what does this tells us? It tells us that in fact as believers we seek this closeness to the divine which is nothing more than closeness to our own essence. But this vertical axis of an individual search for spiritual enlightenment, rests on the horizontal axis. And we can reflect and make the following considerations: if the vertical axis we can look at or consider it as faith, the din, then the horizontal axis is action, it is duni'ya. If the vertical axis is each one's individual search for his illumination and for his spiritual realization, the search for closeness to the Divine, then the horizontal axis is the collective axis, where faith has to translate into action. If there is no action the vertical axis has no sustenance, it has no solid base.

And therefore, for any believer who seeks his or her spiritual realization, it must necessarily rest on its horizontal axis, on its action in this world, on the duni'ya, on the way we conduct our life.

This ayaat will have many other meanings but these occur to me, and I think they deserve our reflection. What we have seen around us in fact are people who generously do, and have done what they have done, and have probably not thought about these issues because it is natural what they have done, it is innate in the human being, it may be forgotten, it may not be active, but it is innate and we have had proof of this.

Therefore for a believer and in this perspective of looking at the principle of generosity, it is intrinsic to faith. There is no individual search for spiritual fulfillment without proper translation of this principle, this belief, in the way we conduct our life, in the way in which in the dun'ya, in the zahir, in the collective part we try to translate this same belief in the way we look to the other, and therefore it is as if in the search and in the question we would ask to the divine:

"I'm looking for You and where are You?"

And probably one of the answers would be, "But I'm in front of you. Have you not seen me in your fellow man?"

And of that we have countless testimonies in every scripture in the lives of all the Prophets. And Mawlana Hazar Imam has repeatedly called our attention to those who are in the most vulnerable situation and Mawlana Hazar Imam used the term in the message that these moments will require , these times the "holding hands"  of holding the other's hand.

“The world is facing a challenging time, and in these moments it is important that the Jamat remains united and focused on helping those who will need assistance and hand-holding.”

When the principle of generosity is seen from this perspective it seems to gain a new dynamic. Because the believer does not look at these two axes as being watertight and separable, his quest for spiritual fulfillment, translated into prayer, thought and submission must be reflected in the way he conducts his life.

And he sees it as only an absolutely natural and mutually reinforcing process. The more I am aware of my conduct and try to make it conform to the fact that we are all one and the same humanity, the moment I dedicate time and thought and submission to my faith, I find other kinds of answers. It is as if the level of consciousness rises, as if the veils are being uncovered, and it will consequently strengthen my own conduct because my eyes will begin to see differently.  And we will enter what we can consider a virtuous spiral.

And so this second idea, that these axes are not separable. The believer, when he looks at what he has, be they material goods, be they knowledge, be they availability of time among others, he looks at these aspects as being blessings, granted by Allah. And that they should be used for you, for your family, but within what is possible for you, shared and generously shared.

He looks at his existence not only as an ephemeral existence in which he begins when he is born and ends when he dies, but as a timeless existence. And all he does is also thinking that in fact what ultimately counts, both in this life and for another, are his acts, his thoughts, and the work he leaves behind. That's what for the believer in fact counts in the eyes of his Creator. And when we think of generosity it can take the most diverse forms and we are the testimonies of what has happened around us.

And there is no need to add much more because we all know that it can translate as availability of financial support, into sharing of knowledge, of time, just to help the neighbor, but it does not stop at these moments that we are living. In summary, probably what has to exist within each of us is a willingness to, in which we do not exhaust all that our lives, either in terms of time or in terms of what we have been blessed with, only for what begins and ends in us and in those closest to us, but that we can be instruments of transformation.

And if this Covid-19 teaches us anything and reinforces that message, it is that in fact generosity is even an act of intelligence. Bill Gates says in one of the articles he wrote recently that he would expect that by now that all countries would be talking to each other because it is easy to conclude that it is not enough that I am doing well and my neighbor is not, because at times like this, nobody asks for permission to enter. Things come in, problems come in, illnesses come in, in everyone's life, in the entire society without asking permission. And if the other is well and happy is the best condition I have to prosper. And so generosity even in itself is an act of intelligence.

But the Quran mentions in other ayyat that it sura Al-Baqaara, sura two of the Quran, in ayat 261 where it refers to this multiplying effect of generosity and uses the example of the grain of wheat and says that generosity has this multiplying effect that one grain of wheat gives 7 ears and in each ear it gives 100 other grains. From one, therefore, to 700.

Not that when we have some act of generosity we think of this multiplying effect for our benefit, but it does have the multiplying effect that always returns. And the more it returns to others the more it returns to me.

I bid you all farewell wishing you to continue in good health, protected and a blessed Ramadan month.

Ya Ali Madad.

 

[ES]

Bismil-lahir-rahmanir-rahim

Ya Ali Madad.

Espero que todos estén bien, con buena salud.

Y hoy os hago una invitación para reflexionar juntos sobre un principio importante dentro de la ética del Islam – el principio de la generosidad. ¿Y por qué reflexionar hoy sobre este principio si pudiéramos hablar de otro? Pero parece apropiado por dos razones.

La primera, porque estamos en el mes de Ramadán, y el mes de Ramadán es un mes de revelación en que el sagrado profeta Muhammad (s.a.s) recibió la primera revelación. Según la tradición Shia Ismaili esa revelación ha ocurrido en la noche, en la vigésima tercera noche del mes de Ramadán, noche en la que celebramos el Laylat Al-Qadr.  Y es en esta revelación que encontramos referencias a la importancia de la generosidad como un medio importante para la construcción de una sociedad más justa, más igual, más fraterna, más solidaria.

Y la segunda razón, de hecho, vivemos en tiempos sin precedentes y hemos visto ejemplos admirables de generosidad absolutamente desinteresada, y que si no fuera esa generosidad y ni merece la pena mencionarlo porque afortunadamente hubo numerosas manifestaciones, si no hubiera sido por esta generosidad hubiéramos tenido más sufrimiento y desafortunadamente habríamos tenido más muertes. Y no solo eso. De hecho, fue esta generosidad la que permitió aliviar el sufrimiento, reducir el número de víctimas, consolar a innumerables personas y, por lo tanto, nos parece apropiado reflexionar sobre este principio.

Pero mientras los creyentes musulmanes Ismailis, la pregunta que gustaría de colocar para reflexión es la siguiente: para un creyente, el principio de la generosidad, además de ser un principio universal y transversal para toda la humanidad, ¿mientras creyentes corresponden a un nivel diferente de mayor conciencia y responsabilidad? Cómo vamos a tratar de responder a esta pregunta? Es para cada uno de nosotros reflexionar sobre ello. Aquí os dejo una pequeña contribución

Y la respuesta a esta pregunta vamos a procurarla en el Quran, en la revelación, en el sura an-Nisa que es el cuarto sura justo en la apertura, en el primer versículo, versículo este que encontramos escrito en el logo del Golden Jubillee, Allah dice:

“khalaqakum min nafsin waahidatin”

Que se traduce: “Te hicimos o te creamos a partir de una sola alma.”

Nafsi –alma,  wahiddatin -  tiene una palabra detrás de ello ahad que significa- uno. Única alma.

Inmediatamente ella nos remite a tres ideas muy importantes, como creyentes creemos que cada uno tiene la chispa divina en su interior. Y lo tenemos como tiene nuestro semejante. Y todos estamos conectados con lo divino. Y esto es muy poderoso. Si queremos ilustrar esta idea para facilitar la explicación imaginemos dibujar un eje horizontal. En cada una de las extremidades de este eje tenemos al ser humano y tenemos a su semejante y en el medio tenemos toda la creación. Y luego dibujamos un eje vertical, y en este eje vertical en la parte superior del eje, desde la recta en la parte superior del eje ponemos Allah.

¿Y qué nos dice esto? Nos dice que, de hecho, como creyentes buscamos esta cercanía a lo divino que no es más que la cercanía a nuestra propia esencia. Pero este eje vertical de un camino de búsqueda individual de la iluminación espiritual descansa en el eje horizontal. Y podemos reflexionar y tejer las siguientes consideraciones: si el eje vertical puede ser visto o considerado como la fe, “din”, entonces el eje horizontal es la acción, es “duni´ya”. Si el eje vertical es la búsqueda de la iluminación de cada individuo y la realización espiritual la búsqueda de la cercanía a lo divino, entonces el eje horizontal es el eje colectivo, donde la fe tiene que traducirse en acción. Si no hay acción, el eje vertical no tiene soporte, no tiene una base sólida. Y por lo tanto, para cualquier creyente que busque la realización espiritual, debe estar necesariamente basado en su eje horizontal, su acción en este mundo, duni´ya, la forma en que conducimos nuestra vida.

Este ayaat tendrá muchos otros significados, pero estos se me ocurren, y creo que merecen nuestra reflexión. Lo que hemos visto a nuestro alrededor, de hecho, son personas que generosamente hacen, y han hecho lo que han hecho, y probablemente no han pensado en estos temas porque es natural lo que han hecho, es innato en el ser humano, puede ser olvidado, puede no ser activo, pero es innato y hemos tenido pruebas de ello.

Por lo tanto, para un creyente y en esta perspectiva de mirar el principio de generosidad es intrínseco a la fe. No hay búsqueda individual de la realización espiritual sin la debida o apropiada traducción de este principio, esta creencia, en la forma en que conducimos nuestra vida, en la forma en que, en el duni'ya, en el zahir, en la parte colectiva tratamos de traducir esta misma creencia en la forma en que miramos al otro, y por lo tanto como si en la búsqueda y en la pregunta que hacemos a lo divino: ? Te busco y ¿dónde estás?

Y probablemente una de las respuestas sería, "Pero estoy delante de ti. ¿No me has visto en tu semejante?" Y de eso tenemos innumerables testimonios en todas las escrituras en las vidas de todos los Profetas. Y Mawlana Hazar Imam ha llamado repetidamente nuestra atención para con aquellos que están en una situación más vulnerable y Mawlana Hazar Imam usó el término en su mensaje que requerirá estos momentos, estos tiempos de "tomarse de las manos" para agarrar la mano del otro.

Cuando se ve el principio de generosidad desde esta perspectiva, parece ganar una nueva dinámica. Debido a que el creyente no considera estos dos ejes como impermeables y separables, su búsqueda de satisfacción espiritual, traducida en oraciones y pensamiento y sumisión debe tener una reflexión sobre la forma en que conduce su vida.

Y él ve esto sólo como un proceso absolutamente natural y de refuerzo mutuo. Cuanto más consciente soy de mi conducta y trato de ponerla en consonancia con el hecho de que todos somos una misma humanidad, en el momento en que dedico tiempo y pensamiento y sumisión a mi fe encuentro otro tipo de respuestas. Es como si el nivel de conciencia se elevara, si los velos se descubrieran, y por consiguiente fortalecería mi propia conducta porque mis ojos empezarían a ver de forma diferente.  Y entraremos en lo que podemos considerar una espiral virtuosa.

Y por lo tanto esta segunda idea de que estos ejes son inseparables. Cuando el creyente mira lo que tiene, ya sean bienes materiales, sea conocimiento, disponibilidad de tiempo, entre otros, considera estos aspectos como bendiciones, otorgadas por Allah. Y que deben ser utilizados para sí, para su familia, pero, dentro de lo posible, compartido y generosamente compartido.

El mira su existencia no apenas como una existencia efímera em que comienza cuando nasce y acaba cuando muere, pero una existencia intemporal. Y todo lo que hace es también pensar que lo que cuenta en última instancia, tanto en esta vida como en otra, son sus acciones, sus pensamientos y el trabajo que deja atrás. Esto es lo que el creyente realmente cuenta a los ojos de su Creador. Y cuando pensamos en la generosidad, puede tomar las formas más diversas y somos testigos de lo que ha sucedido a nuestro alrededor.

Y no hay necesidad de añadir mucho más porque todos sabemos que puede traducirse en disponibilidad de apoyo financiero, intercambio de conocimientos, a tiempo, sólo para ayudar al vecino, pero no se detiene en estos momentos que estamos viviendo. En resumen, probablemente lo que tiene que existir dentro de cada uno de nosotros es una voluntad de hacerlo, en la que no agotamos todo lo que nuestras vidas, ya sea en términos de tiempo o en términos de lo que hemos sido bendecidos, sólo por lo que comienza y termina en nosotros y en los más cercanos a nosotros, sino que podemos ser instrumentos de transformación.

Y si este Covid-19 nos enseña algo y refuerza ese mensaje, es que de hecho la generosidad es incluso un acto de inteligencia. Bill Gates dice en uno de sus últimos artículos que esperaría que todos los países se hablaran en este momento porque es fácil concluir que yo no estoy bien y mi vecino no está bien, porque en momentos como éste, nadie pide permiso para entrar. Las cosas entran, los problemas entran, las enfermedades entran en la vida de todos, en toda la sociedad sin pedir permiso. Y si el otro está bien y feliz es la mejor condición que tengo para prosperar. Así que la generosidad, incluso en sí misma, es un acto de inteligencia.

Pero el Quran refiere en otro ayyat que es el sura Al-Baqaara, el sura dos del Quran, en el ayat 261 donde refiere este efecto multiplicador de la generosidad y utiliza el ejemplo del grano de trigo y dice que la generosidad tiene este efecto multiplicador que un grano de trigo da origen a 7 espigas siendo que en cada espiga ella da origen a cien otros granos. De un, así que, para 700.

No es que cuando tenemos algún acto de generosidad pensemos en este efecto multiplicador para nuestro beneficio, pero tiene el efecto multiplicador que siempre vuelve. Y cuanto más vuelve a los demás, más vuelve a mí.

Me despido de vosotros deseándoos que continúen en buena salud, protegidos y un mes de Ramadán bendecido.

Ya Ali Madad.