E, de repente, todos em casa e fora qualquer ajuda. Foi o que nos aconteceu e cá continuamos a levar os nossos filhos ao colo ou a sermos suportados por eles. Escrevo para partilhar um caso positivo!
Sou mãe do Omar (9 anos), da Farah (7 anos) e do Rafiq (3 anos) e de forma muito pragmática, diante as restrições que nos foram impostas, sentados em família abrimos o Excel e definimos horários, tarefas, atividades e tempos livres. Aquilo que começou por ser uma intenção de disciplina e controlo de danos é, evidentemente, a melhor ferramenta de gestão de emoções e segurança. E, assim, continuámos e estamos na versão 10 de 2020 mas, na verdade, o nosso Excel tem tantos anos quantos os do Omar e a COVID-19 só veio acelerar a frequência da revisão.
Quem me conhece sabe que encaro a vida de forma otimista, em que os obstáculos são para ser ultrapassados porque não existem impossíveis, em que a vida em si é uma constante oportunidade de melhoria e em que o cansaço e o stress que acumulo curam-se com o coração! Mas o segredo do meu sucesso tem sempre por base uma boa tabela de dupla entrada!
Na tabela encontram-se as rotinas, os apoios aos processos, as responsabilidades, as avaliações de desempenho e os prémios. E isto não é de hoje, nem da COVID, é de sempre!
As crianças reagem à postura dos adultos, isto é, quando os pais se mostram preocupados, ansiosos e tensos, o comportamento e as reações dos filhos refletem insegurança, alarmismo e agitação. Por outro lado, se os pais se mostram confiantes e calmos, o bem-estar e a facilidade de ajuste dos filhos a novos contextos e desafios tornam-se naturais.
E é com base neste conhecimento, adquirido por experiência mas também atestado por diversas leituras e formações sobre Parentalidade, que, perante novos contextos, cá em casa paramos, refletimos e preenchemos a tabela.
Quando digo tabela, efetivamente é um conjunto de ações que acabamos por aplicar diante de um novo desafio. Recentemente para a COVID-19, mas também já o foi para o nascimento de mais um filho, para a mudança de casa, para a mudança de escola, para a mudança de País.
Fazem parte desse conjunto de ações:
- Falar e dialogar em família sobre o tema, o novo contexto, o novo desafio;
- Ao explicar do que se trata, demonstrar a necessidade de adotar novos comportamentos, novas rotinas, fazer um cartaz ou uma caça ao tesouro que permite de forma criativa conhecer e estabelecer novas regras;
- Depois, ficar atento ao comportamento no decorrer dos primeiros dias ou semanas, percecionando dificuldades e monitorizando as reações dos filhos e de nós próprios (pais);
- Na suspeita de incompatibilidade ou desadequação da regra ou da atividade, ou simplesmente pela necessidade de mudança, ser flexível para afinar, alterar, para desistir dela;
- Preservar sempre uma ligação ao contexto anterior, e isto aplica-se aos locais, a algumas práticas adquiridas, a alguns objetos e, claro, à família e aos amigos;
- E, por fim, tentar manter o equilíbrio, balancear o online e o offline, o trabalho e o lazer, a escola e a brincadeira, os doces e os legumes!
Mas tenho de vos confessar, também, que por mais que tente ser perfeita como o Excel, por vezes a minha fórmula não funciona e, aí, há que valorizar o essencial que para mim é o bem-estar, a autoconfiança e a alegria dos meus, na certeza de que tento sempre ser o melhor que sei.
Entendemos que é só do máximo empenho, dedicação e esforço que garantimos que levamos os nossos filhos no melhor colo do mundo. Na realidade, é do orgulho de os vermos crescer curiosos, adaptáveis, seguros, ágeis e por tudo isto felizes, que nos suportamos para saber e ter a certeza de que, mesmo em momentos difíceis e de grande provação, em que o nosso máximo nos pareceu ser inferior aos mínimos qualificáveis, no final tudo ficou bem e tudo tinha e tem um lado positivo. Os nossos filhos são uns camaleões e nós seremos sempre os seus campeões!
Hoje, 4 meses depois, olho e vejo que o Omar terminou o 4º ano com distinção e que é craque do Roblox, do iMovie e do PowerPoint.
Hoje, 4 meses depois, a Farah aprendeu a ler e escrever com aulas virtuais, sabe o Jaherat, o Du’a e o Tasbih.
Hoje, 4 meses depois, já não temos nem fraldas nem biberões e o Rafiq está tão eloquente, malandro e esperto como seria de esperar se tivesse de se destacar por isso, numa sala com 17 rapazes e 3 meninas!
Hoje 4 meses depois, foi com a nossa ajuda, com tentativa e erro, com mais de 10 versões do Excel, que vos digo: eles estão bem e nós também!
Durante esta COVID-19 estamos a reforçar a nossa união, o nosso companheirismo, conhecemo-nos cada vez melhor e sabemos aceitar melhor o que nos distingue. Continuamos dispostos a aprender e a ensinar, estamos mais aptos a partilhar e a respeitar, sentimos que, juntos, somos capazes de enfrentar este e todos os próximos novos desafios.
Será da nossa receita, será do Excel? A nossa família é um caso positivo, como “n”!
Artigo escrito por Nalina Kara
Mãe de 3 filhos, Diretora Geral da UMM – Indústria de Metalomecânica e formada em Gestão (UCP)