Ao longo de hora e meia, Eduardo Paniagua, Cesar Carazo e Wafir Shekheldin transportaram os espectadores para a época medieval ibérica com a recriação de canções árabe-andaluzas, entoadas ao som de instrumentos então usados, como o saltério (espécie de harpa), o kaval (flauta), a fídula (viela, antecessor do violino), o alaúde árabe, a darbuka (percussão), a pandeireta e as castanholas, interpretadas com uma sensibilidade tocante, deixando preso desde o primeiro momento o público que, completamente seduzido, não regateou aplausos a cada música tocada.
O momento alto do espectáculo foi protagonizado por César Carazo, intérprete de fídula, tocador de castanholas e senhor de uma voz simultaneamente poderosa e maviosa, que arrancou uma calorosa ovação de pé. O encantamento pela música perdurou até à derradeira canção, com o público a resistir à despedida deste brilhante trio musical, exigindo um “encore”.
Especialista em música espanhola medieval, Eduardo Paniagua, que concilia a música com a arquitectura, tem dado um contributo inestimável para recuperar e manter viva a herança da música medieval árabe-andaluza, que resulta da simbiose cultural muçulmana, judaica e cristã. Foi membro fundador de vários grupos e já participou em diversos festivais espanhóis e no mundo árabe. Pelo seu trabalho de investigação e pela difusão de músicas inéditas, o conceituado músico espanhol tem recebido excelentes críticas e conquistado prestigiados prémios internacionais, tendo já sido considerado o melhor artista de música clássica.
Diversidade e Pluralismo
Os dois concertos (um à tarde e outro à noite) de Eduardo Paniagua Ensemble, organizados em parceria com a EGEAC e aos quais assistiram cerca de 550 pessoas, realizaram-se no âmbito das celebrações do Natal e do 21º aniversário do lançamento da Primeira Pedra do Centro Ismaili, que decorrem sob o tema da Diversidade e Pluralismo. Um tema especialmente caro a Sua Alteza Aga Khan, que durante os 60 anos de Imamat - que este ano comemora - não tem medido esforços para defender as vantagens e a riqueza do multiculturalismo, aliás, bem patentes na sua meritória obra em prol de sociedades.
Desde que abriu as portas, o Centro Ismaili tem acolhido uma multitude de eventos culturais, educacionais e sociais, abertos a todos, dando cumprimento a um dos principais objectivos definidos na sua inauguração por Sua Alteza Aga Khan: “um Centro para servir os lisboetas e a sociedade em geral”.
Sempre com esse desígnio em mente, a comunidade ismaili de Lisboa tem organizado paralelamente visitas guiadas ao Centro, as quais têm merecido uma extraordinária adesão. Com efeito, uma visita guiada realizada antes do concerto contou com aproximadamente 170 pessoas.