Hoje partilhamos consigo o oitavo artigo da rubrica “Relação Pais-Filhos”, escrito por Karima Juma, que nos esclarece sobre a disciplina e o castigo e apresenta diferentes estratégias para disciplinar os seus filhos.

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Ao longo da minha vida profissional, muitas vezes vi pais a confundirem os conceitos de disciplina e punição: para uns são sinónimos, para outros estão interligados, mas, para mim, são duas palavras distintas com significados quase opostos.

A punição (ou castigo) pode ser definida como a aplicação ou imposição de uma pena como retribuição por uma ofensa ou falta (de acordo com o www.dictionary.com). Punição pode ser outra forma de dizer tratamento inadequado ou tratamento duro, por parte dos pais, numa situação particular. Mas o que constitui um castigo?

No castigo, estão incluídas ameaças, gritos, retirar coisas e bater. No momento, os pais podem pensar que conseguiram lidar com a situação, mas, a longo prazo, este comportamento tem efeitos muito negativos para a criança. Está comprovado que o castigo cria ressentimento, medo dos pais e contribui para diminuir a autoestima da criança.

A disciplina, por outro lado, é um processo que transforma o mau comportamento da criança no oposto, uma oportunidade de aprendizagem. O objetivo principal do pai que disciplina é ensinar autodisciplina a um filho, orientá-lo a assumir responsabilidade pelas suas ações e mudar o seu comportamento para cooperar com o pai nessa situação particular.

A disciplina engloba aprender a disciplinar (os pais aprendem estratégias diferentes) e a aprendizagem da criança com o incidente. Leva tempo, consistência, paciência e uma quantidade enorme de amor incondicional. As crianças respondem ao respeito e às expectativas positivas e, uma vez que os pais modelam esses comportamentos, a criança irá, de igual modo, repeti-los fora de casa. Em que consiste a disciplina?

Pode englobar o seguinte:

  • Distrair a criança;
  • Ignorar o mau comportamento;
  • Estruturar o ambiente;
  • Controlar a situação - não a criança;
  • Envolver a criança;
  • Planear tempo para amar;
  • Desapegar;
  • Aumentar a sua consistência;
  • Notar o comportamento positivo;
  • Diga à criança para fazer uma pausa.

Note que estas são algumas das estratégias que pode escolher, tendo em consideração as suas próprias crenças e a idade da criança e o seu desenvolvimento.

Distrair a criança

Funciona para bebés e crianças com menos de 12 meses; tome uma ação sem utilizar muitas palavras, como dar outra coisa para brincar, removendo a criança da situação.

Ignorar o mau comportamento

Eficaz para crianças pequenas, quando estão amuadas, a exibir-se, a “choramingar”, fazendo birras, interrompendo, pedindo doces.

Estruturar o ambiente

Significa que prepara o ambiente. A sua casa deve ser “child-friendly”, para que o seu filho possa explorar e ter muitas experiências práticas, visto que é assim que as crianças aprendem sobre o mundo à sua volta. Quanto mais adequada para as crianças for a sua casa, menos irá precisar de dizer “tira as mãos” e mais estará a incentivar e encorajar a autonomia.

Controlar a situação - não a criança

Significa dar às crianças algum controlo positivo, estabelecendo limites e dando opções. Ajuda as crianças a ganhar autonomia e confiança porque têm limites claros e um conjunto de opções à sua escolha.

Envolver a criança

Envolva a criança no processo de disciplina, porque as crianças aprendem mais sobre cooperação quando se sentem ouvidas. Uma maneira de envolver o seu filho, enquanto corrige o seu comportamento, é aplicar consequências às suas escolhas. Geralmente funciona para crianças com mais de três anos.

Pergunte ao seu filho "Qual a consequência que achas que devias ter"? Normalmente, as consequências são diferentes dos castigos porque uma consequência muitas vezes diz à criança: "Não gosto do que estás a fazer, mas ainda te amo". As consequências mostram respeito por ambos (criança e adulto): recaem sobre o momento presente, estão focadas na má tomada de decisão da criança e não na própria criança, são firmes mas amigáveis.

Planear tempo para amar

As crianças só serão crianças uma vez. Durante a infância, elas precisam do seu tempo e atenção. É importante planear, diariamente, um tempo especial com o seu filho. Brinque, dê carinho, dê um passeio, leiam juntos, cozinhem juntos, mascarem-se. Ao planear estes momentos está a ser proactivo, prevenindo problemas de comportamento, criando filhos emocionalmente equilibrados e trazendo harmonia ao seu relacionamento. Se tem mais de um filho, tenha o hábito de passar tempo individual e de qualidade com cada um deles, pelo menos uma vez por semana.

Desapegar

Desapegar significa encontrar um equilíbrio. Superproteger e superestimar as crianças pode ser prejudicial. Os seus filhos precisam de escolhas dentro dos limites e, como pai, você irá precisar de aprender quando intervir e quando se abster. O desapego é um processo que começa quando o seu filho é pequeno por muitos mais anos.

À medida que o seu filho amadurece e mostra um comportamento respeitoso, você irá aprender a desapegar-se cada vez mais. Até então, uma boa regra é perguntar a si próprio "esse comportamento irá ajudar o meu filho a aprender a cooperar com os outros"? Se a resposta for não, você precisa de intervir e definir limites.

Aumentar a sua consistência

Basicamente, significa tratar o mesmo tipo de comportamento da mesma forma, não importando onde e quando. A prática torna-o melhor e você irá ficar melhor com o tempo. No entanto, não espere perfeição e seja gentil consigo mesmo, como pai também.

Quanto mais consistente for, mais eficaz será a sua disciplina e o seu filho saberá com facilidade os seus limites e o que esperar. É um esforço extra, mas vale a pena.

Notar o comportamento positivo

“Apanhe-os” a fazer as coisas bem. Elogie-os quando eles seguem as regras, quando cooperam consigo e com os outros, pare por um momento para perceber e diga “gostei da forma como ajudaram a arrumar as coisas”. Isto incentiva um comportamento mais positivo e é bom para a autoestima da criança.

Diga à criança para fazer uma pausa

Use esta estratégia como último recurso, especialmente para comportamentos muito perturbadores e quando nada mais está a funcionar ou quando sente que está a perder o controlo. Frequentemente, uma pausa também pode ser um momento para recuperar o controlo sobre os seus próprios sentimentos e comportamento e ser capaz de prosseguir com mais calma.

Normalmente, o castigo é eficaz em crianças pequenas e em idade pré-escolar, quando estas começam a aprender a bater e a morder, para “birras” e interrupções constantes.

Ao criar filhos pequenos, tenha em mente as palavras de L.R. Knost e nunca se esqueça do propósito de ser pai: “Disciplina é ajudar uma criança a resolver um problema. Castigo é fazer uma criança sofrer por ter um problema. Para criar crianças peritas em resolver conflitos, concentre-se em soluções, não em retribuição”.

Por Karima Juma

Referência: Systematic training for effective parenting of children under six by Don Dinkmeyer Sr.

Sobre a autora

Karima Juma é ex-professora do IB e de Montessori. Atualmente trabalha como consultora educacional em escolas internacionais e como educadora de pais. É, ainda, instrutora de mindfulness, orientando pais e crianças com diferentes tipos de capacidades de aprendizagem.