Testemunho de Johanna Ahamad.

Passaram-se 6 meses, 167 dias, 498 horas e 1440 minutos desde que tive de sair da escola tão repentinamente! 

Foi um momento de súbita mudança, em que tivemos de nos adaptar à nova situação da nossa vida. Deixei de poder estar com os meus colegas como todos os dias, de poder partilhar e experienciar novas aventuras e conhecimentos com eles, para apenas os ver num ecrã longe de mim, cada um em sua casa e a sentir a falta daquele sorriso matinal, do “bom dia professora” ou até do “peço desculpa pelo atraso”.

Sim, sei que provavelmente não acreditam que passei os últimos 6 meses a contar cada minuto para rever estes meus amigos, mas na verdade, na ânsia em que estava por voltar aos corredores da escola, a saudade do movimento nos pátios, os risos dos colegas de turma, os High five à chegada... Acabou por ser exatamente o que aconteceu!

Eu comecei as aulas presenciais dia 14 de setembro, segunda-feira, e assim que lá cheguei senti uma estranha sensação de “normalidade anormal”, ou seja, retomámos a normalidade dentro do possível. Desde aí minha rotina tem sido quase sempre a mesma:

Chego à escola e as pessoas são as mesmas, no entanto, estamos todos por trás de máscaras que não nos deixam ver a expressão de ninguém. Estarão felizes? Zangados? Cansados? Animados? Infelizmente não poderei saber por agora. Desinfeto as mãos, passo o cartão da escola e sou indicada para o local designado à minha turma, sempre mantendo a distância física. Está tudo tão organizado, disciplinado e até diria que parecemos soldados a caminho do seu treino matinal, todos em perfeita sintonia em “fila indiana”. Passamos os intervalos em locais arejados com a possibilidade de pôr a conversa em dia, mas sempre com a máscara colocada. Regressamos às aulas de novo e no fim do dia voltamos para casa, despedindo-nos apenas com um tímido e breve aceno.

Até agora tem tudo corrido bem e as aulas têm um formato diferente do habitual. Mesmo dentro da sala de aula, mantemos as máscaras colocadas e cada um tem o seu posto de trabalho distanciado dos outros. No início e final do dia, todas as mesas, cadeiras e outros materiais da sala de aula são desinfetados. Todos os alunos e professores tomam responsabilidade pelos seus materiais e contribuem todos para mantermos um bom ambiente de trabalho e colaboração. Juntamente com os funcionários do Colégio, estamos a trabalhar para nos podermos manter presencialmente juntos pelo máximo de tempo possível!

Os procedimentos são realizados em todas as salas de aula do colégio e até os horários foram cuidadosamente desfasados, entre cada turma, para evitar o mínimo contacto entre alunos. Desta forma, estamos a trabalhar por “bolhas” para podermos evitar que um caso se espalhe por tanta gente. Temos apenas de ter os cuidados para que as nossas bolhas não sejam de sabão... essas rebentam facilmente!

Tudo isto que acabei de mencionar podem apenas parecer regulamentos simples e fáceis de seguir mas, na verdade, envolve mais empenho do que o esperado. Todo o corpo docente do Colégio realizou um excelente trabalho para que possamos estar presentes hoje nas aulas e cabe-nos a nós, alunos, continuar a ser responsáveis e manter o bom trabalho.

Apesar de estarmos todos bastante otimistas nesta fase, enfrentamos, porém, alguns obstáculos. Tanto eu como os meus colegas temos expressado a dificuldade em ouvir e compreender bem a matéria devido ao uso de máscaras - confesso que isto me deixa um pouco frustrada. Nos intervalos de almoço, temos de ficar afastados uns dos outros. Resultado? A descontração já não é a mesma visto que basta inclinar-me ligeiramente para o lado de alguém e já nos posso estar a colocar em risco... Involuntariamente e inconscientemente. E voltando ao tema das expressões faciais… Como as consigo interpretar? Antes da utilização de máscaras bastava um certo olhar divertido de uma amiga e já sabia que haveria assunto de conversa no intervalo, bastava um sinal de um professor que ficávamos todos “em sentido” sem demora e até, através de um simples gesto, eu podia expressar o que sentia sem precisar de falar! Apesar de teoricamente já o sabermos antes, foi preciso vivermos esta fase para podemos entender na verdade o quanto as expressões faciais têm um papel fundamental na nossa comunicação e interação.

Solução? Ainda não conhecemos a fórmula mágica. Incertezas temos todos, insegurança também, mas devemos focar-nos em caminharmos na mesma direção e ajustarmos as nossas ações e vida dia após dia!

E no final tudo isto vale a pena, porque estou muito feliz por poder voltar a reunir-me com os meus amigos, depois de tanto tempo de escola online, e espero permanecer assim durante muito tempo nesta nova jornada! Vamos continuar a manter a distância, mas sempre juntos! Esta frase pode parecer contraditória, no entanto, sinto que estamos distantes fisicamente, mas mais unidos que nunca!

Um bom ano letivo a todos!

Johanna Ahamad